Canto para Minha Morte - Raul Seixas
- Joseane Marcondes
- 12 de set.
- 2 min de leitura

Começo esse texto com o trecho da música:
“Vou te encontrar vestida de cetim
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo, mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida.”
Para muitos, ela é temida, evitada, silenciada. Outros se arriscam a buscá-la.
Ela nos ensina o valor do tempo, sobre a urgência das conquistas, sobre a urgência de amar, sobre a beleza do instante.
Todos os dias nos deparamos com notícias de mortes, na tv, nas redes sociais, etc e a tratamos com certa apatia, insensibilidade. Porém quando essa morte é próxima, quando é de um familiar, alguém especial, a olhamos como algo inaceitável, uma resistência à finitude.
Como pôde aqueles homens doentes, com sua “vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida, o câncer já espalhado e ainda escondido”, lutando para conseguir ao menos respirar, aqueles homens com temor de que ela estava se aproximando, refletindo o que deixará para trás – orgulho ou desgosto?
E para nós, fica apenas a ausência que pesa, o eco do que foi vivido, o que ficou por dizer e não foi dito, o que foi sentido. – “Como não me despedi dele? Assim do nada ele morreu?”
Não, não foi do nada. Em meses ele morreria e naquele dia você não saberia, por isso não disse, não tinha como saber.

Fará 29 anos que você se foi, fez 36 anos que você partiu, 17 anos que nos deixou e estamos apenas 1 mês de sua partida.
“Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez.”
E para onde vai todo o conhecimento daqueles homens, toda sua fé?
Para o Catolicismo a morte é uma passagem para a vida eterna, a alma é julgada e pode ir para o céu ou inferno e ainda vagar no purgatório. Para o Budismo a reencarnação, o ciclo de nascimento e morte continua até que o espírito alcance a libertação do carma. Para o Espiritismo também a reencarnação, a morte é apenas o retorno ao mundo espiritual, onde a alma se prepara para novas experiências. E para você? O que é a morte?
Para mim é vista como o fim. O fim de um ciclo que se encerra. Não existe vida após a morte, não existe céu e inferno. E tudo se apaga, se acaba.
Não há como escapar dela, “A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beija”. Encará-la de forma sábia? Aceitá-la?
Hoje tornou-se um tabu social, algo a ser escondido ou evitado. A preocupação passou a ser com a dignidade do morrer.
Sabendo que o fim, a certeza de que ela virá, mais cedo ou mais tarde
Você viveria como se fosse seu último dia, ou se entregaria em seu colo leve, doce e gelado?
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